terça-feira, 5 de maio de 2020

TRABALHOS DO CLUBE


TRABALHO DO CLUBE


  Este ano, a conciliação do tempo livre dos alunos com o dos professores foi muito difícil.
Depois de muitas voltas, lá conseguimos um tempinho: terça feira, às 8h 20m.


PROJETO

Mais tarde, quando se decidiu trabalhar os mitos propostos pela Rede de Bibliotecas "Clássicos em Rede", o entusiasmo permitiu que se ocupasse até o dia de Carnaval e outros tempos livres.

PROCESSO






Depois de lermos as propostas de “Clássicos em Rede”, os mitos escolhidos foram: “Orfeu e Euridíce” e “Perséfone e Deméter”, pelo que começámos a recolher informações sobre estes mitos e a decidir como é que os iríamos trabalhar. Optámos pela realização de um filme, mas mesmo aí, surgiram problemas, com os materiais adequados para tal e a conciliação dos tempos livres. Por fim, com a boa vontade de todos e a ajuda dos pais e avós tudo foi possível, embora não nas condições ideais.

Depois de procurar locais não muito longe da escola onde encenar as nossas histórias, optámos pelos jardins do Palácio de Cristal e a praia de Ribeira de Abade, em Valbom. No entanto, o tempo chuvoso e depois o fecho da escola, devido ao Covid 19, dificultou o nosso trabalho.

Com efeito, o grande problema para quem quer realizar atividades ao ar livre, é sempre o tempo e este não andou muito de feição.
 Na terça feira de Carnaval, altura em que os nossos pais tinham disponibilidade para nos levar ao Palácio de Cristal, choveu, e os nossos planos foram por água abaixo. Mesmo assim, ainda aproveitámos fazer algumas filmagens, já programadas, em Gramido, antes que a chuva o impedisse de todo. Aí tivemos a colaboração de um pescador, o Sr. António Novo, um dos poucos que vão resistindo à falta de sável e lampreia que outrora existia em grande abundância na Ribeira de Abade, em Valbom.




                                                              Campanha de António Novo




As nossas tentativas




Como a hipótese do Palácio de Cristal se mostrou quase inviável, já que, apenas alguns de nós fizeram uma viagem de reconhecimento e tiraram algumas fotos e outros conseguiram aproveitar uma pequena  diminuição da chuva para trabalhar algumas cenas, no dia do Carnaval, tivemos que optar pelo lugar da Ribeira de Abade e pela própria escola para fotografar e filmar as cenas necessárias.







Praia da Ribeira de Abade

Passadiço de Valbom

Ponte no passadiço de Valbom

Recanto no passadiço de Valbom

                                                                  Complexo desportivo


Depois veio a Covide 19 e tivemos que nos refugiar em casa. Ainda bem que já tínhamos fotografado e filmado várias cenas dos mitos. Desta forma, apenas tivemos que trabalhar melhor alguns textos para o blogue, em casa.

Foi necessário aprender com os mitos que trabalhamos e tornarmo-nos resilientes, ou seja, capazes de enfrentar as adversidades e construir algo positivo.  



OS LOCAIS ESCOLHIDOS PARA O NOSSO TRABALHO




PALÁCIO DE CRISTAL

    O primeiro local escolhido para a realização dos nossos trabalhos foram os jardins do Palácio de Cristal, hoje denominados jardins do Pavilhão Rosa Mota, Arena Super Bock.
    Os Jardins do Palácio de Cristal foram projetados no século XIX pelo arquiteto paisagista Émille David. O edifício foi idealizado por Thomas Dillen Jones, tendo como base o Crystal Palace de Londres. Possuía 150 metros de comprimento e 72 metros de largura, dividindo-se em três naves. Tinha como objetivo acolher a Grande Exposição Internacional do Porto, tendo sido inaugurado a 18 de setembro de 1865, pelo rei D. Luís, que se fez acompanhar de D.ª Maria Pia e do princípe D. Carlos.





Palácio de Cristal

   O Palácio possuía o maior órgão de tubos do mundo pelo que se realizaram lá importantes concertos. O compositor Viana da Mota ou a violoncelista Guilhermina Suggia foram nomes que atraíram muita assistência.
   Nessa altura, os Jardins do Palácio de Cristal eram o ponto de encontro da elite portuense que percorria as suas avenidas em convívio, por entre os rododendros, camélias, araucárias, ginkos bilobas e faias.
    Ao longo do tempo, acolheu grandes exposições como a  Exposição Agrícola de 1903 e a Exposição Colonial, promovida pelo salazarismo em 1934, que atraiu milhares de visitantes.
   Em 1933 , a Câmara Municipal do Porto  adquiriu todo o complexo, organizando lá a Feira Popular e várias edições da Feira do Livro.
   Em 1951, foi mandado demolir para ser construído o Pavilhão dos Desportos, uma nave de betão, da autoria do arquiteto José Carlos Loureiro e do engenheiro António dos Santos Soares, com o objetivo  de poder lá realizar-se o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, que ocorreu em  1952.


Pavilhão dos Desportos

    Em 1991 e pretendendo homenagear uma grande atleta portuguesa e portuense, que ganhou a medalha de ouro na  Maratona em 1988, em Seul, mudou o nome para Pavilhão Rosa Mota, no ano de 1991.
   Nos últimos anos, o edifício sofreu uma grande intervenção, com o patrocínio da Super Bock, sendo dotado de bancadas retráteis, acolhendo até 8.660 pessoas em espetáculos, 5.580 pessoas em eventos desportivos, 4.727 pessoas em congressos, e salas de apoio que perfazem cerca de 1.400 lugares.
   Manteve, no entanto, a estrutura de betão, as janelas emblemáticas que caracterizam a cúpula do edifício. Foi ainda objeto de escavações para a construção de um Centro de Congressos, com a capacidade de 500 lugares.
   O edifício renovado foi inaugurado em 28 de outubro de 2019, mudando a designação para  Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota.

Nos últimos tempos, tem funcionado como hospital de campanha para fazer face às necessidades, no que respeita o Covid 19.


Descrição do espaço actual:

Na entrada mantém-se o Jardim de Émile David, composto pelos lagos e as quatro estátuas, que representam  o Inverno, a Primavera, o Verão, o Outono, o que nos parecia adequado para trabalhar o mito Perséfone e Deméter.




   Além disso, os múltiplos jardins são uma enorme fonte de possibilidades.
Destes jardins podemos salientar: o Jardim das Plantas Aromáticas, das Medicinais, o Jardim do Roseiral, das Cidades Geminadas, inaugurado em 2009 e o Jardim dos Sentimentos, inaugurado em 2007.
   Achamos muito interessante o facto de lá podermos encontrar  pavões a abrir as suas penas junto das pessoas, como numa sessão de fotografia.  

Pavões dos jardins do Palácio de  Cristal


   As Avenidas das Tílias, com uma árvore dedicada ao músico portuense José Mário Branco, a dos Plátanos, o bosque e o caminho envolvente é dotado de lindos miradouros com vista para o rio Douro e a cidade do Porto.



Vista da cidade do Porto, Ponte da Arrábida


Vista da cidade do Porto


   Por vezes, estes Jardins recebem eventos, tais como o Porto Blues Fest, entre outros. Aos sábados, costuma oferecer gratuitamente aulas de pilates, yoga e tai-chi.  

   Como a entrada é gratuita e existem muitas mesas de pedra e bancos, é habitual  as pessoas aproveitarem as sombras para estudar ou passar um tempo relaxante ao sol ou abrigadas dele, até porque o espaço possui a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, da autoria do arquiteto José Manuel Soares, com várias áreas multidisciplinares, com restaurante e esplanada com vista para o lago, uma galeria e um pequeno auditório e o pavilhão também possui bar e restaurante.

 Possui, ainda, várias fontes originais ou recolhidas de edifícios que foram demolidos ou modificados, como, por ex:
- Fonte da Quinta da Mitra;  Fonte de S. Jerónimo; Fonte da Gárgula, Fonte dos Leões entre outras.


                                                                Fonte de Vénus
                                                        


Webgrafia:

Natoional Geografic, "Do Palácio de Cristal à Nova Arena",
https://www.natgeo.pt/historia/2020/02/uma-viagem-historica-pelos-jardins-do-palacio-de-cristal, 02.02.2020



Bibliografia:



Porto 1965 - Uma Exposição, Expo 98

segunda-feira, 4 de maio de 2020

MITO DE ORFEU E EURIDÍCE - PROCESSO



"Orfeu e Eurídice", Marc Chagall



MITO DE ORFEU E EURÍDICE
Uma das maiores histórias de amor gregas  e, afinal, de todos os tempos é a de Orfeu e Eurídice. Trata-se de um romance verdadeiramente trágico que demonstra quão poderoso pode ser o amor. Eurídice e Orfeu são as versões gregas de Romeu e Julieta. Nas duas versões, um amante sem o outro não tem existência.



"O Parnaso", Andrea Mantegna, 1497 Le Louvre, Paris

        "Quando Orfeu tocava a sua lira de ouro, os próprios rochedos, as árvores, as aves e os regatos calavam-se para escutar"

ORFEU



                                                                        "Orfeu", mármore

Orfeu, na mitologia grega, era poeta muito talentoso e músico, filho da musa Calíope e de Apolo, rei da Trácia.
Quando tocava a lira que o pai lhe dera, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo.
Orfeu apaixonou-se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que, pouco tempo depois do casamento, atraiu um apicultor chamado Aristeu que a perseguia, apesar dela só ter olhos para Orfeu. Um dia, ao tentar fugir de Aristeu, tropeçou numa serpente que a mordeu e matou. Por causa disso, as ninfas, companheiras de Eurídice fizeram com que todas as abelhas de Aristeu morressem.



"Morte de Euridíce", 1814, Ary Scheffer
Orfeu ficou muito triste com a morte de Eurídice, pelo que se decidiu ir até ao Mundo Inferior, com a sua lira para tentar que Hades a deixasse voltar ao Mundo Superior.Com a música da sua lira, convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo rio Estige e conseguiu adormecer Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões desse Mundo.





"Cerbero" de William Blake


Quando, finalmente, Orfeu chegou junto de Hades, o rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado no seu domínio, mas a agonia da música de Orfeu acabou por o comover até às lágrimas. Influenciado pela esposa, a deusa Perséfone, atendeu ao pedido de Orfeu. Assim, Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos, mas com a condição de Orfeu não tentar olhar para ela até sair definitivamente do reino de Hades.





                         "Orfeu guiando Eurídice no submundo", 1861 de Jean-Baptiste Camille Coro


Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria, enquanto caminhava guiando Eurídice. Mas no final da subida, olhou para se certificar de que a sua amada o acompanhava e não a viu. Desta forma, Hades voltou a ficar com Eurídice, como tinha ficado acordado. Nunca mais Orfeu a poderia recuperar.  


"Orfeu e Eurídice às portas do Inferno" (edição com iluminuras das Metaformoses de Ovídio)

Ainda a viu  ser agarrada por Hades, mas imediatamente se tornaria fantasma. Orfeu tinha perdido Eurídice para sempre! Em desespero total, tornou-se amargo e recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, lembrando-se constantemente da sua perda.
Começou a oferecer conselhos aos que precisavam, a fim de que eles não sofressem como ele próprio sofria. Porém, um dia, um grupo de mulheres repudiadas por Orfeu resolveu organizar-se para matá-lo, mas não conseguiu, porque a música aparava os dardos que lhe eram atirados. Contudo, as Ménades conseguiram abafar a música de Orfeu, com gritos, e matá-lo, atirando a sua cabeça ao Rio Hebro. Todavia, enquanto flutuava, a cabeça ainda clamava:
– Eurídice! Eurídice!



Orfeu transformado em Pedra pelas Ménades (Gravura de uma edição ilustrada das Metaformoses de Ovídio, Amesterdão, 1683)

As Musas comovidas enterraram o corpo de Orfeu no Monte Olimpo. As Ménades foram punidas pelos deuses: assim que saíram do rio, os seus pés afundaram-se, na terra, tornando-se árvores, que foram açoitadas pelos ventos furiosos, pela morte de Orfeu.
Orfeu, morto, conseguiu unir-se à sua amada novamente, nos Campos Elísios.
Conta-se que após a morte de Orfeu, os pássaros cantaram mais felizes, pois o músico estava feliz, outra vez, com a sua amada.


                                                              Orfeu de Odilon Redon


Eurídice

                                                    Orfeu e Eurídice de Frederick Leighton

Eurídice, na mitologia grega, era uma ninfa, filha do deus Apolo, e casada com Orfeu, lendário músico e poeta, pela qual ele desce às profundezas de Hades. Eurídice era tida como uma mulher tímida, mas muito bonita.
Eurídice foi a grande inspiradora de Orfeu, que a amava profundamente. Desde o dia do seu casamento, enquanto Orfeu tocava canções alegres, a sua esposa dançava no campo. Um dia, Aristeu viu-a, apaixonou-se por ela e passou a persegui-la. Eurídice, ao fugir, pisou uma víbora que a mordeu, acabando por morrer.


                                 "Eurídice mordida por uma cobre". Escola de Giorgione

Orfeu, de tal forma atormentado,  tocou e cantou com tanta tristeza que todas as ninfas e divindades choraram, aconselhando-o a  ir ao submundo tentar recuperar Eurídice. Orfeu assim fez. Depois da sua música ter comovido os corações de Hades e Perséfone, e o seu canto até ter levado as Erínies ao choro, foi autorizado a levar Eurídice de volta ao mundo dos vivos.
Numa outra versão, Orfeu tocou lira para adormecer Cérberus, o guardião de Hades, e de seguida, Eurídice foi autorizada a retornar com Orfeu ao mundo dos vivos, com a condição de Orfeu andar à frente de Eurídice e não olhar para trás, até ambos terem chegado ao mundo superior. No entanto, na subida começou a duvidar que ela viesse atrás de si, pondo a hipótese de Hades o ter enganado. No instante, porém, em que alcançou os portais de Hades e a luz do dia, Orfeu virou-se para olhar para Eurídice, quebrando, desta forma, o pacto feito, o que fez Eurídice desaparecer e voltar ao submundo.
A história de Eurídice pode ser uma adição tardia aos mitos de Orfeu. Em particular, o nome Eurudike ("aquela cuja justiça se estende amplamente") lembra títulos de culto ligados a Perséfone. O mito pode ter sido derivado de outra lenda de Orfeu, na qual o músico viaja até ao Tártaro e encanta a deusa Hécate.
A história de Eurídice tem várias versões, desde o mito japonês de Izanagi e Izanami, o mito maia de Itzamna e Ixchel, o mito indiano de Savitri e Satyavan, e o mito acadiano, sumério da descida de Inanna para o submundo. A história bíblica da esposa de Ló, que foi transformada numa coluna de sal porque olhou para a cidade da qual  estava a fugir, é "frequentemente comparada à história de Orfeu e Eurídice".



Webgrafia:
https://www.infopedia.pt/$orfeu-e-euridice
https://en.wikipedia.org/wiki/Eurydice
https://www.greekmythology.com/Myths/Mortals/Eurydice/eurydice.html
https://mythology.net/greek/mortals/eurydice/

Bibliografia:

Moncrieff, A-R. Hope (1922) Mitologia Clássica. Guia Ilustrado, Círculo de Leitores
Philip, Meil (2004), Mitologia do Mundo, Rio de Mouro, Círculo de Leitores



PERSONAGENS DO MITO

HADES



                                                               Hades, escultura
Hades, na mitologia grega, era filho de Cronos e de Reia, irmão de Zeus e de Posídon. Depois de Zeus ter destronado Cronos, o reino foi dividido, cabendo a Hades, o mundo subterrâneo e das riquezas.
O seu nome que significa "o Invisível", era usado para designar tanto o deus quanto o reino que governava, nos subterrâneos da Terra.
Uma das peripécias pelas quais é conhecido, é a do rapto da deusa Perséfone, filha de Deméter, tomando-a sua esposa e a quem teria quase sempre sido fiel. Desta forma, passou a reinar sobre as forças infernais e sobre os mortos em companhia de Perséfone.
No mundo Inferior era ajudado por outras divindades, como Hécate, as Fúrias, as Parcas ou Moiras, as Harpias, Tanatos, o Hipnos e as Górgonas.
É descrito como austero e impiedoso e extremamente temido.

Caronte, pintura
                                                                           
.Era o velho barqueiro Caronte que conduzia as almas dos mortos através do rio Estige, até à entrada do reino, habitado por formas vagas e sombrias, guardada por Cérbero, um monstruoso cão de três cabeças e cauda de dragão.  
Hades era auxiliado por Minos, Éaco e Radamanto. Se as almas fossem condenadas eram atiradas ao Tártaro, a região mais profunda, habitação das almas maléficas que sofreriam eternamente. As almas boas seriam encaminhadas aos Campos Elísios ou Ilha dos Bem Aventurados, lugar dos heróis, santos sacerdotes e poetas, ajudadas pelo deus Tânatos, o deus da morte, e Hipnos, o deus do sono.
Com o tempo acreditou-se que Hades propiciava o desenvolvimento das sementes e favorecia a produtividade dos campos. Como divindade agrícola, eram-lhe consagrados o narciso e o cipreste ligando o nome a Deméter. Eram os dois festejados nos Mistérios de Êleusis, rituais que comemoravam a  fertilidade das colheitas e das estações do ano.

Hades poderá ser visto como o estádio intermediário onde o humano é colocado  frenre a uma perda, antes de ter a noção de que algo novo irá começar.

MÉNADES


"Ménades com a cabeça de Orfeu e a sua Lira" (1865) de Gustave Moreau  
.
As Ménades, Bacantes, Tíades ou Bassáridas, eram seguidoras do culto de Dionísio. Durante o culto, dançavam de uma maneira muito livre e lasciva, em total concordância com as forças mais primitivas da natureza.
Os mistérios Dionisíacos provocavam nelas um estado de êxtase absoluto, o que as tornava violentas, praticando atos radicais. Nas suas orgias, eram acompanhadas pelos Sátiros e Coribantes que marcavam o ritmo com os tamborins acompanhando, desta forma, o deus do vinho nas suas aventuras. Andavam nuas, ou vestidas só com peles e grinaldas de hera, empunhando um tirso, bastão envolto em ramos de videira.
Por onde passavam, iam tentando cativar outras mulheres para a vida lasciva. de tal forma que, por vezes, o seu comportamento causava pânico, já que, quando entravam em fúria, não tinham limites. Desta forma, refugiavam-se no alto das montanhas, onde podiam viver livremente.
As Ménades são referidas no mito de Orfeu que se recusava a olhar para outras mulheres após a morte de Eurídice. Furiosas por serem desprezadas por ele, atacam-no, atirando dardos, mas estes foram neutralizados pela música de Orfeu, pelo que arranjaram forma de abafar a sua música com gritos para conseguirem matá-lo, despedaçarem-no e atirarem a sua cabeça ao rio Hebro.  
As Ménades foram condenadas pela sua crueldade, os seus pés enfiaram-se na terra, como num pântano, transformando-se em carvalhos fustigadas pelo vento. Acabado o tempo de vida de uma árvore, os seus galhos caíram, secos no chão, confundindo-se com a terra.

As Ménades ou Bacantes chamam a atenção para tudo o que o homem tem de selvagem, perigoso e sombrio que é reprimido pela pessoa e pela sociedade, sem aceitação da sua existência, o que poderá, por vezes, levar a distúrbios emocionais e psicológicos.


Webgrafia:

http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/2011/11/menades-ou-bacantes-o-lado-sombrio-de.html


O MITO DE ORFEU E EURÍDICE – UMA INSPIRAÇÃO QUE PERCORRE O TEMPO

O mito de Orfeu é inspirador de diversas criações artísticas dos tempos modernos, que vão da música (Offenbach, Glück, Liszt, Stravinsky entre outros), ao cinema, à pintura, à poesia e muitas outras artes.
Na Antiguidade Clássica, no século I a. C., Virgílio e Ovídio imortalizaram o mito da descida aos infernos nas Geórgicas, livro IV e nas Metamorfoses, Livros X e XI.

Sophia de Mello Breyner Andresen, amante que era da Grécia,  também lhe dedicou especial atenção, na sua poesia. A poeta e a pintora Graça Morais  chegaram a  fazer um trabalho conjunto. 

"ORPHEU”
Seu canto alto e grave
O canto de oiro o êxtase da lira
Orpheu
a palidez sagrada de seu rosto
que de clarões e sombras se ilumina
ante seus pés se deitam mansas feras
vencidas pela música divina

Sophia de Mello Breyner Andresen e Graça Morais, Orpheu e Euridice




Soneto de Eurydice

Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.

Sophia de Mello Breyner Andresen , "No tempo dividido", 1954

   
ELEGIA

Nunca se distingue bem o vivido do não vivido
O encontro do fracasso.
No instante de dizer sim ao destino
Incerta paraste emudecida
Ε os oceanos depois devagar te rodearam

Aprende
A não esperar por ti pois não te encontrarás
No instante de dizer sim ao destino
Incerta paraste emudecida
Ε os oceanos depois devagar te rodearam
A isso chamaste Orpheu Eurydice —
Incessante intensa lira vibrava ao lado
Do desfilar real dos teus dias
Nunca se distingue bem o vivido do não vivido
O encontro do fracasso —.
Quem se lembra do fino escorrer da areia na ampulheta
Quando se ergue o canto
Por isso a memória sequiosa quer vir à tona
Em procura da parte que não deste
No rouco instante da noite mais calada
Ou no secreto jardim à beira rio
Em Junho.


Miguel Torga é, do mesmo modo, inspirarado por Orfeu:


Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

                       Miguel Torga, Orfeu Rebelde





Também, o poeta Vinicius de Morais escreveu a peça Orfeu da Conceição, que foi premiada em 1954, no concurso de teatro do 4º Centenário de São Paulo, Brasil. Serviria de inspiração para o filme “Orfeu”, de Cacá Diegues, em 1999.

MONÓLOGO DE ORFEU

                               Antonio Carlos Jobim,
                               Vinicius de Moraes

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa

O meu peito em soluços!
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.

E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.

Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!

Todas estas obras mostram que o amor não tem fronteiras, mesmo entre a vida e a morte, para o amor não existem obstáculos já que pode tornar-se uma força capaz de tudo mover. Como sentimento irracional poderá levar à loucura e a atos impensados e impulsivos, causando sofrimento. Não é Camões que diz que “o Amor é Fogo que arde sem se ver, um contentamento descontente!

Esta força antitética que é capaz de mover o mundo e levar à destruição é afinal um laço de união entre toda a humanidade. Como afirma  Sophia “Esta é o reino que buscamos nas praias de mar verde, no azul suspenso da noite, na pureza da cal, na pedra polida, no perfume do orégão. Semelhante ao corpo de Orfeu dilacerado pelas fúrias este reino está dividido. Nós procuramos reuni-lo, procuramos a sua unidade, vamos de coisa em coisa.” "Arte poética I" (III, p.p. 94), 

Webgrafia/ Bibliografia
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/orfeu-e-euridice-mitos-inspiram-a-arte.htm?cmpid=copiaecola
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/orfeu-e-euridice-mitos-inspiram-a-arte.htm
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/musica/cancoes/monologo-de-orfeu
 https://www.greekmyths-greekmythology.com/orpheus-and-eurydice/
Ferreira  José Ribeiro, O tema de Orfeu em Musa de Sophia de Melllo Breuner Andresen Universidade de Coimbra, HVMANITAS- Vol. L (1998), https://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas50/55.2_Ribeiro_Ferreira.pdf

Orpheu e Eurydice”, (2006) , Sophia de Mello Breyner Andresen / Graça Morais, Ed. Centro Nacional de Cultura, 
                                                                 
A NOSSA HISTÓRIA

Eurídice e Orfeu

Eurídice no reino dos mortos sentia que  o seu amado Orfeu sofria por não a ter. Culpava-se por que razão fora tão pouco cuidadosa e se deixara morder pela cobra, de forma a ter que permanecer separada de Orfeu, quando ambos se amavam. Por que razão, Aristeu se apaixonara por ela? O mundo é feito de desencontros. O seu coração que gritava "eu te amo" a todas as paredes, a todas as flores e animais, não culpava Aristeu. Coitado, ele também não conseguira o seu objetivo: ficar com a sua amada.
- Orfeu!
Ouvia a sua música constantemente, até ali no reino de Hades.
Orfeu!
- Eu sei que Orfeu vive desgostoso e luta por me voltar a reencontrar, será possível? O amor tudo vence!
Entretanto, Orfeu com a sua música capaz de hipnotizar plantas e animais, convence Hades a deixá-lo trazer Eurídice para fora do submundo,  ou então, ficar ele lá junto dos mortos.
Hades assentiu, mas com uma condição: levar Eurídice sem olhar para trás.
Assim faria Orfeu.
Foi grande a alegria dos amantes ao se reencontrarem. Eurídice coxeava devido ao seu ferimento. Poderiam viver novamente juntos.
A subida fez-se de forma atrapalhada. Como Hades ordenou, Orfeu subiu à frente e Eurídice logo de seguida. Apesar de querer ir a seu lado não poderia olhar para trás. Ao chegar ao topo, Orfeu instintivamente, quebrou o prometido, olhou para trás e Eurídice foi retida no reino de Hades. (Hades agarra Eurídice)
Eurídice fica no reino de Hades para sempre. Orfeu saiu e ficou sete dias junto do lago que o tinha levado até Eurídice, sem que o barqueiro o deixasse voltar. Ficou simplesmente ali, sem comer, sem beber, sem reagir. 
Passado algum tempos, Orfeu manteve-se com as suas canções afastando os carvalhos dos seus lugares e amansando os animais ferozes. Quando outras mulheres o tentavam seduzir, fugia delas o que levou as Ménades a  lutarem contra ele e atiraram a sua cabeça e lira à água.
O lugar onde dizem ter sido enterrado pelas Musas, é encantado e lá o rouxinol não deixa de cantar suavemente.
No final de contas, foi uma forma de se juntar a Eurídice e com ela viver eternamente, embora Júpiter se tenha compadecido por tanto infortúnio, ele que tanto percebia de amores, colocando a lira de Orfeu entre as suas estrelas.


Webgrafia/Bibliografia

https://www.infopedia.pt/$orfeu-e-euridice
https://en.wikipedia.org/wiki/Eurydice
https://www.greekmythology.com/Myths/Mortals/Eurydice/eurydice.html
https://mythology.net/greek/mortals/eurydice/
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/orfeu-e-euridice-mitos-inspiram-a-arte.htm?cmpid=copiaecola
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/orfeu-e-euridice-mitos-inspiram-a-arte.htm
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/musica/cancoes/monologo-de-orfeu
https://www.greekmyths-greekmythology.com/orpheus-and-eurydice/
Peixoto, Paula Torres , Revista Arquitectura Lusíada nº. 4

Andresen, Sophia Breyner Andresen (1975), Antologia, Morais Editores


ESPAÇOS

Inicialmente, pensámos filmar a nossa história no Palácio de Cristal. Lá existem jardins que podem simular o submundo, como o cedro, símbolo desse mundo, a estátua da Dor de Teixeira Lopes, vários animais e até a lira de Apolo ou de Orfeu.



                                                         Dor de Teixeira Lopes




Concha Acústica



Pensámos fazê-lo no dia de Carnaval, mas a chuva impediu grande parte da nossa ação.
No entanto, como alguns de nós tinham feito uma viagem de reconhecimento, aproveitamos as imagens colhidas, nesse dia e outras que foi possível obter no dia do carnaval.
As cenas de embarque para o submundo estavam previstas serem filmadas na praia pesqueira de Ribeira de Abade. A chuva dificultou o trabalho, mas a simpatia do Sr. António Novo e do seu companheiro de campanha permitiu que pudéssemos filmar e fotografar algumas imagens.

                                                             
                                              Orfeu à chuva com os pais abrigados a ver a cena





Barca de Caronte e Orfeu

Dadas as condições climatéricas e o facto da escola fechar, tivemos que filmar à pressa algumas cenas, na escola, no seu último dia de  funcionamento, por tentativa e erro

Orfeu a tentar uma postura séria!



Hades a rir?



Outras imagens foram recolhidas entre nós:

- imagens de férias em Afife:



Orfeu e Eurídice, escultura a Pedro Homem de Mello

- Imagens do Monte Crasto e da Srª do Salto


Monte Crasto


Srª do Salto, Aguiar de Sousa

Srª do Salto, Aguiar de Sousa


O amor que move montanhas que é capaz de tornar os Homens fortes, fracos, ao mesmo tempo, é ao fim e ao cabo, o que dele escreveu Camões:


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?





                                      Ao som  de Yann Tiersson, Penn ar Lann, tocado pela Sofia Costa